Íris
Hide My Face, Acid Ghost
Uma de suas íris é estranhamente inclinada à parte
interna de seu olho. Foi um detalhe que demorei a perceber, capturado enquanto
meu nariz tocava o seu. Em sua cama, eu lhe utilizava de travesseiro enquanto
segurava seus punhos acima de sua cabeça, grudados no colchão. Aquele
milimétrico estrabismo foi uma surpresa engraçada, que me conduziu a amar
beijar suas pálpebras fechadas.
Foram os olhos que me encararam de volta, para dentro da
alma, quando busquei segurança nas palavras que me consolavam, dizendo que
ninguém iria embora. Ainda dilacera pensar que, por vários segundos, eu encarei
aquela segurança firme defronte ao espelho, que refletia seus braços em meu
entorno. Foi triste lhe ver indo embora naquela noite doída. Lembro de meu
corpo doente, segurando sua mão fragilmente no trajeto de carro até a
rodoviária.
Quando devaneio sobre a não-reciprocidade amorosa, penso
em como sua mão pendeu por entre meus dedos enquanto eu resistia em soltá-la. Seu
olhar, sólido, fixo no meu. Aquela força presencial me engana profundamente. Indecifrável.
O transtorno mental que assombra e deforma minhas
memórias, transformando em pesadelos constantes meu tom de castanho favorito,
algema meu desejo de esquecer as noites turbulentas em torno de meu conceito de
“presença”, incompreendido por ti.
Doía e dói, brutalmente, o brilho que só retornava aos
seus globos oculares ao mencionar outro nome, diferente do meu. Sorria defronte
o impacto, encorajando-o a seguir. Chorava em segredo sob os cobertores, sentindo-o
cada vez mais longe. Doía e dói, irracionalmente, que o ser abrigado por ti
naquela noite de crises violentas, não podia ser eu. E dói, doía mais, sua
indiferença e certeza de que, de longe, você não poderia me auxiliar
satisfatoriamente. Era meu corpo que
trincava enquanto, com suas mãos, você juntava os cacos d’outro ser.
Transborda portar, nos olhos, o oceano de sentimentalismo
onde mergulham estas partes possivelmente mentirosas de minhas lembranças. Onde
se sentem as saudades que, quase sempre, ameaçam não ser devolvidas. As mesmas
que me dão medo sobre o esquecimento defasado da feição daquele que foi minha
casa. Da voz que me sussurrava amor. Das mãos que aqueciam as minhas. Do cheiro
do cabelo dourado. Dos olhos. Íris. Pupilas que me encaravam.
Eu continuo com medo de mim.
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