segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Ao Meu Outro Eudopassado

Ao Meu Outro Eudopassado

Das questões do meu eupassado, a quem respondo um ano após, com meu eudofuturo.

Caro Eudopassado,
temo que 2016 não tenha se saído como você esperava. A continuidade aguardada se tornou gradualmente um início completamente diferente, e eu confesso que ainda não descobri se isso foi bom ou catastrófico. Vejo ambos os lados, sempre em uma mutação constante e radical que possui picos e depressões.

Calma, isso já passou. Evaporou da sua vida há um tempo razoável e isso foi ótimo. A hora certa para uma saída (finalmente) completa e, até então, imutável. Toda a confusão, o choro e a ansiedade se tornaram o vazio, preenchido por sentimentos que arderam, ardem e ainda parecem impossíveis. Um pouco dele foi preenchido pela luz de uma relação semi pacífica que, bem de vez em quando, você consegue observar do alto.
Talvez, meio sem querer, você tenha alcançado a aquietação diante do que aflige e entendido que esta também é uma forma de iluminação.


Observo de longe que a amizade foi uma ponte necessária para atravessar um mar violento. Dada a travessia, a mente voltou ao seu estado introvertido natural. Isso não é ruim - mas também não tenho a autonomia que me levaria para dizer que se aproxima de algo bom.

O amor foi louco. Continua ardendo. O coração se preencheu de uma forma que eu não achei que existisse ou fosse possível, mesmo após tantas facas. Ele tem cabelos lindos e me apresentou um novo universo em vários sentidos. No sentimento de deixar livre. No contato físico. Nas portas abertas para dentro de seu mundo perfeito-musical-sereno-particular. Na liberdade de tornar externo todo e qualquer pensamento. Nas reflexões compartilhadas. No meu quarto nas tardes quentes. No quarto dele em dias frios. Nas mãos. Nos olhos. Na ponta dos dedos.


Descobri coisas estranhas sobre as palavras. Como se elas não me bastassem mais, mas ao mesmo tempo sempre estivessem presentes. Como se fossem minha bênção, e também minha maldição. Como se continuassem servindo - mas como complemento. Só pra suprir lacunas. Só pra não me perder no espaço tempo.
Ocupada demais vivendo presencialmente para escrevê-lo. Tornando-me a humanidade, ao invés de mera observadora de tal. Atravessando cortinas difíceis que provavelmente me beneficiarão num futuro próximo. O orgulho vem na observação da falsa calmaria passada, que forçava a manter estático.


Aprendi, de uma hora pra outra, a amar a mutação. Esses sentimentos confusos. Os choros, a raiva, a sensação de não fazer parte.
Pois tudo isso é movimento. Continuará sendo movimento. E eu amo o movimento. Eu amo a minha completa, confusa e maravilhosa condição humana.

O surrealismo da chuva e das conversas estranhas naquele cubículo escuro. E no banco de trás do carro, em um abraço de seis braços, onde amei 2016. E na miniatura de floresta, com a baunilha nos meus lábios, onde amarei 2017.


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