quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Bifurcação

Bifurcação


Eu sempre me importarei. A vida é e será bonita. Nada se faz tão claro quanto as flores que brotam em Agosto. A natureza é um espelho gigante que reflete toda a humanidade, até eu e você.

Agora é quase primavera, e às vezes eu choro depois de ver seu rosto, porque seus olhos ainda faíscam pra mim. Eu sinto medo da promessa que fiz nas entrelinhas, de tomar conta de você. Morre uma parte do meu coração pensar na parte da minha alma que habita seu ser. Eu decorei seu jeito de caminhar e de estreitar os olhos. É difícil tornar-se estranho de quem conheceu todos os seus lados escuros. E mais difícil ainda pensar que não existe solução plausível, porque não há vínculos de amizade entre duas pessoas que nunca foram, de fato, amigas.

Sofro de aflição quando lembro do que você me dizia sobre seu medo da falta de um objetivo de vida. Eu desejo que você já o tenha encontrado. Eu desejo que ele seja mais do que você esperava. Eu quero que você encontre uma cidade grande e iluminada que acalente seu espírito e te faça voltar a crer na sua própria bondade. Porque nós dois sabemos do seu coração de verdade.

Eu sei que provavelmente sou uma pessoa diferente da que te conheceu há quase três anos, mas eu prometi que cuidaria da sua mente em chamas, lembra? E eu cumpro minhas promessas. Eu sorrio de longe. Eu quero e apoio qualquer coisa que te torne maior. Porque você já é imenso. Você se fez imenso. Você se fez seu próprio lobo.

Deixei que se fodessem o orgulho e a aparência. Eu não ligo mais pra nenhum deles, afinal. Eu desvio o rosto enquanto pende entre nós dois um barbante de átomos ou partículas ou seja lá o que foi que aconteceu aqui. Eu só queria que você soubesse que eu lembro. Que eu sou uma ótima atriz, mas eu lembro. Eu lembro de quando você me disse que se afastaria se isso me fizesse feliz, porque era desse tanto que você me gostava. Eu sinto muito por não ter compreendido o quão valioso era esse sentimento antes. Eu admiro sua forma complexa de amar as coisas.

Eu não tenho mais medo. Porque eu não preciso segurar sua mão pra dizer que te amo. Porque eu sei que você acredita. Porque se o pra sempre for mesmo um estado da mente, a gente chegou lá. A gente montou um pra sempre, nem ligo se funcionou ou não. Nem ligo se você não quer saber do que eu tenho pra dizer. Sempre vai existir a gente. Nós somos ótimos em escrever histórias. Por isso sempre vai existir aquela lembrança dos nossos cabelos iguais. Dos meus olhos vazios. Dos planos impossíveis. A gente escreveu um livro inteiro. Nada mal pra quem nunca conseguiu terminar uma história.

Eu só queria que você soubesse que eu lembro. Que você leva um pedaço da minha alma, e eu sinto, e eu lembro. Eu não queria morrer sufocada com essas palavras. Eu não queria que acabássemos como todo mundo, porque não somos parte do que é podre na humanidade. Eu lembro. Eu sinto muito. Eu agradeço que já dividimos uma estrada e espero que a sua nova te leve pra um lugar extraordinário.

A Lua continua a mesma, independente de qual estrada quem olha pro céu resolve seguir.

sábado, 11 de junho de 2016

Orquídea

Orquídea

The Eternal, Joy Division

pr'aquela orquídea de outro nome, que eu vou sempre bem querer

Eu tenho uma orquídea violeta que ganhei há quase três invernos. Passei-a de um vasinho amarelo a um vasinho azul, e do vasinho azul ao meu jardim. Ela matou todas as minhas flores. É que eu, que tanto amava orquídeas, não sabia que essa espécie de planta rouba os nutrientes das outras plantas. Elas fazem assim: enlaçam as outras com suas raízes fininhas e as matam. Até as árvores grandes, depois de um tempo. Elas matam.

Fiquei com raiva da orquídea por muito tempo. Mas sempre que ia arrancá-la de lá pra salvar as outras flores, ela floria. O sol batia na orquídea violeta e nasciam outros botões. E eu sempre desistia de arrancar a orquídea. Mas ela matava todas as minhas flores.
Um ano depois, quase todo o meu jardim estava morto. As rosas, os lírios, as hortênsias, tudo.  E mesmo que fosse poética a situação daquela flor, mesmo que ela fosse bonita, mesmo que eu sentasse ao lado dela pra contar histórias... não deu. Procurei um jeito de tirar a orquídea da terra e plantá-la de volta num vasinho. Não era culpa, era só a natureza da flor. Mas, de novo, ela matava todas as minhas flores.

Ela ficou morando na estufa, com as outras orquídeas. No início eu ia mais lá. Visitá-la. Mas orquídeas não precisam de tanta água. Elas morrem afogadas de amor demais. Comecei distanciar minhas visitas. Principalmente porque precisava cuidar do meu jardim, que estava morrendo. Fiquei assim até as outras flores voltarem a florescer – demorou um pouco, mas voltaram. As abelhas também voltaram, junto com as joaninhas e as formigas. Meu jardim estava bem.

Mas eu sentia saudades da orquídea. Às vezes ia até a estufa pra ver como ela estava. Porque tinham conversas que não funcionavam com as outras flores. Eu não me importava que ela tivesse matado meu jardim. Não era culpa dela. Era a natureza da orquídea.
Nas visitas periódicas, ela me compreendia. A gente conversava sobre coisas que as outras flores não entendiam, porque a alma das outras flores era diferente – elas já haviam morrido. Mas minhas saudades não mudavam a natureza da flor.

Pensei que tem flores que nascem pra viver isoladas, assim, num vasinho azul ou amarelo. Que a gente acha belas e vai visitar de vez em quando. Que a gente continua adorando, mesmo depois do estrago imenso no jardim.

E eu ainda amo as orquídeas. Mas no meu jardim não. No meu jardim, nunca mais.

sábado, 5 de março de 2016

Sem Tinta

Sem Tinta

Mad World, Gary Jules

Eu roubaria sim. Contrariando o que disse mil vezes antes dessa. Eu roubaria. O tempo. Porque tudo parecia menos urgente sem um prazo a contornar. E mais fictício num período de 900 dias ao invés de 300.

Porque quando corre mais depressa não sobra tempo pra jogos. Nem mágoa. Nem desenterro de passado. Nem nenhum tipo de raiva. E eu não quero não conseguir dormir por questões de peso na mente ou na alma. E eu não tenho tempo para corações partidos.
E além do tempo, segurar sua mão. Porque todas as coisas poderiam ter esperado. Tempo vai mais devagar com você, porque quando te seguro corro mais rápido. E porque eu queria te apresentar meu quarto antes que você fosse, e antes que eu ficasse pensando nisso pra sempre. Mas eu nunca sei onde você está. Nem quem você ama. Nem se você ama. Nem onde eu estou. E sou eu que não consigo deixar pra lá, afinal de contas.

Jurei que dessa vez faria tudo. Mas como tudo, se amor é um processo tão cooperativo e as pessoas são tão individuais? Se isso é o conformismo, eu não quero mais. Se essa inércia é aceitação, eu não me sinto tão plena em aceitar. E se o que estou fazendo é discurso, eu desisto. Porque não sei mais escrever. Nem tenho o que dizer. E porque a linguagem torna meus sentimentos pequenos do tamanho de uma folha, e me incomoda a ideia de que meus maiores problemas são minúsculos assim.
Essa piada não tem mais graça. E vivendo de brincadeira por tanto tempo, não sei o que fazer a partir daqui. Ou sei. Mas se depende do sentimento do outro ainda é saber?

O mundo faz mesmo esse pouco caso com todos que se apaixonam? Ou quem faz pouco caso somos nós? Ou nenhuma das alternativas, porque na verdade todos estávamos sozinhos?
Eu não sei mais escrever. Porque agora não há ninguém além de mim para culpar. Pela decepção que eu me causei. E pelas histórias que eu inventei. E pelos sentimentos que não consigo compartilhar.
E porque no fim eu tenho muito medo da minha imagem no espelho. E das coisas com as quais conto para me preencher. Eu não sei mais escrever. Nem por que choro. E é verdade, eu buscava iluminação. Mas nunca achei que a luz fosse cair sobre mim mesma como quem diz vá se virar. Daí choro por todos os não culpados que culpei. Por mim mesma também.

Porque começo temer que todas as afirmações sobre amor próprio talvez não se apliquem a todos. Que existem seres fadados a segurar a mão alheia para não tropeçar. Mas e quando a mão alheia não quer mais nos segurar? Todos os dias no colo de alguém diferente, e nunca sem parar de correr. Eu não sei mais escrever.

Sabia que o tempo corre diferente para quem vai rápido e quem vai devagar? Não fui eu quem disse. Foi Einstein. Eu não digo mais nada. Porque eu não sei mais escrever. Porque palavras são muito limitadas para o meu reflexo. Porque minha luz e minha dor e meu amor e minhas lágrimas não são tão simples quanto 500 caracteres. Porque eu não caibo mais dentro de mim. E porque, finalmente, eu não sei mais escrever.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Elétrico

Elétrico

Colors, Halsey

Dormiu na minha torre como quem aproveita um castelo pela primeira vez. Os pés sobre o baú, as mãos sob o travesseiro e os olhos na estante. Sorria de longe, escondida, para a melodia da caixa de música que você fazia funcionar. E prendia meus cabelos séria, com você no canto dos olhos, esperando na porta.

E nessa de implorar silenciosamente por calma durante tempo demais, fazendo jus às minhas presas, seu espírito elétrico corria sem parar. Quando me tocava, a corrente me fazia pular. Você vermelho vivo, gritante. Eu azul denso, triste. E nós lilases.
Você abrindo trilha e empurrando galhos. Eu ao fundo, dizendo espere. Devagar. Com cuidado. Dizendo vamos sair da floresta, que aqui dentro é escuro. E dizendo ey... não morda forte assim.

Gargalhava enquanto você contava sobre minha própria grandeza. Mas me calava por dentro, ouvindo sua filosofia sobre as possibilidades infinitas do ser. Quando parava de gargalhar, chorava. E você nunca dizia quase nada. Só que não era pra eu falar coisas assim, que elas te assustavam. Eu sabia mais sobre medo do que você sabia sobre coragem.

Sentia muito pelas vezes em que te chamava e me afastava quando te via chegando. Te esfaqueei com o medo que sentia de não conseguir escapar de você. Da sua possibilidade de viver sem mim e continuar inteiro. Porque você sabe que sou egoísta sobre corações. E eu sei que você é capaz de desaparecer de repente.

Todos falavam sobre você como se tudo sobre seu ser fosse possível. Como se nada estranho fosse inesperado, nenhuma das inconstâncias. Com suas expressões de “Ah, sua bobinha, você não esperava isso dele?...” achavam engraçadinha a raiva que eu sentia quando alguém perguntava sobre.

E depois de algumas amoras, uma blusa no meu armário, a última estadia na minha cama e um hiato, te vi de longe. E com o tiquinho de raiva que move meu amor admiti que continuava te achando fantástico. Com seus colares e sua pulseira e seus óculos escuros. Mesmo que você segurasse outras mãos. Mesmo que eu segurasse outras mãos e que minha mente corresse em torno de duas outras pessoas diferentes.

Dessa vez, quem esquivava era você. E eu fui embora pra outra casa. Com você pendurado por um alfinete na minha jardineira, e eu pendurada por um cordão no seu pescoço.

Você é meu pra sempre. Eu quebrei seu coração.

domingo, 3 de janeiro de 2016

Das Nuvens

Das Nuvens


Perguntaria aos mestres as fórmulas que preenchem a solidão que se descobre enquanto se estuda a mente. E temeria que nenhuma delas silenciasse o medo da completa individualidade.
Abriam a boca para me contar que “cada ser nasce e morre sozinho” enquanto de olhos fechados eu nutria a certeza de que compartilhava da mente do outro.
Sinto muito, Buda, Sócrates e Osho. Pelas lágrimas que se tornam mais reservatório do que rio fluente. Por enlouquecer triturando o que não podia, posso ou poderei modificar. Por tampar os ouvidos diante ao questionamento e ligar a lanterna alheia no túnel de minha própria escuridão.
É só que ainda temo, passarinhos, observar todos os imaginários em particular. Sozinhos com suas interpretações. Projetando no mundo o que ocorre ali dentro. Segurando outro par de mãos para que se sintam menos sozinhos nesse mundo. E sendo os únicos, entre bilhões, a conhecerem os próprios pensamentos na hora de dormir. Quando é madrugada e as estrelas descem. E a loucura parece mais suscetível.

Quando na lógica diz-se de um jeito, a cabeça insiste em se atirar à frente, brincando de prever o que não aconteceu, acontece, acontecerá. Eu digo, dizia calma. Enquanto no colo de cem outros, a cabeça vagava pelo mesmo lugar.
Do trauma de se ver sozinho outra vez após o pensamento que se formava com uma certeza que para qualquer outro caso não existia, não existe - de que o laço vermelho de Akai Ito pendia entre nossas mãos.
E tremer como um terremoto diante de qualquer sinal do perfume. E recusar meu sorvete favorito. Porque a solidão me fazia mal ao estômago. À cabeça. E ao coração.
Vai o enjoo. Fica o medo. De não me sentir nunca mais protegida da incerteza. Porque em minha mente já domina o pensamento: "cada ser nasce sozinho, morre sozinho".
E tentei voltar ao mesmo rio. Mas ele já havia ido embora. E o que eu havia sido também.

Se você não possui, lhe dou. Minha mão. Meu corpo. E meu coração. Não pretendia, pretendo, pretenderei tomar-lhe algo de volta. Porque escolhi te observar no jardim, ao invés de matar suas raízes e te levar pra casa. Assim, você morreria e passaria a ser meu enfeite. E eu prefiro te amar, a amar aos meus enfeites.
É que precisamos aprender o dobro sobre o que ensinamos. E eu precisava, preciso, precisarei aprender sobre a compreensão. Insisti pela segunda, terceira ou quarta vez. E sempre que entrava, entrava melhor. Sempre que saía, saía pior. Cada volta sua o que me fez, faz. Que fazer com a mente, que tem consciência absoluta da necessidade da partida, mas traz intercaladas à sensatez lembranças belas assim?
O cérebro leva tempo para eliminar o que foi imaginado e em seu interior tornou-se realidade. Porque acreditamos na visualização, afinal. Nos planos sem querer. E na certeza da estadia permanente. Que não vai acontecer.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Meu-Eu do Futuro

Meu-Eu do Futuro

O texto é um conjunto de respostas embasadas numa carta bastante sugestiva e curiosa que escrevi a mim mesma no primeiro dia de Janeiro de 2015. O título era “Ao meu eu do futuro”.

Olá, eu do passado. Não foi de todo diferente, mas algumas das pessoas não estavam lá esse ano.

Sim, eu parei na maioria dos dias. Às vezes algo me aflige, e confesso que reluto um pouco antes de chorar. Pretendo libertar esses sentimentos me embasando no fato de que a liberdade não é nada além de aquietar-se diante do que nos entristece.


As coisas não se resolveram. Continua confuso e não parou de martelar sua cabeça por completo – logo desisto de tentar colocar em palavras, e aí, eu aposto, tudo fica certo. Chorei sim, foi muito. Foi embora alguns dias depois da carta. Entretanto, ao contrário do pavor que você mantinha sobre isso, desenvolvi em meu coração o desejo de reconstrução e luta. Vi beleza nas cinzas, no meu antigo eu esparramado pelo chão, afogado numa banheira, quase completamente morto – vi a possibilidade de reconstrução, li sobre a necessidade de nos tornarmos cinzas antes do renascimento. Permiti que seu corpo fosse sucumbido pelas chamas e pela tormenta. E agora somos o que construí até aqui. Baseado em arte, energias cósmicas, companheirismo, todos os tipos de conhecimento que se pode imaginar e, principalmente, o desejo pungente e levemente voraz do amor. Do amor para comigo mesma e para com os outros.

Adivinhe. Estava errada quando escreveu que o ano em que viveu no passado havia sido seu melhor. Não nego a ideia. Mas 2015 foi melhor, também. Nessa brincadeira de reconstrução, vi novas pessoas junto a mim. Vi outros seres apoiando a cabeça no ombro do que um dia foi um criaturinha tão medrosa, só a fim de pedir auxilio. Senti meu corpo no lugar certo. Senti-me útil e necessária. E seria louco escrever que encontrei meu lugar, mas cada dia essa casinha se parece mais com meus próprios ossos e especialmente com minha própria mente. De auxiliar o outro. Oferecer mãos aos que se sentem esquecidos. Conduzir mentes até certa parte do caminho, para que depois sigam sozinhas. O trabalho que para mim é o mais fácil, e que os outros consideram bom o suficiente para que haja busca e pagamento por.

Continuamos conversando, apesar do ritmo ter diminuído gradualmente no último mês, não se sabe por quais motivos. Muita gratidão pela amizade e conhecimento compartilhado. O platonismo desapareceu quase completamente – e não digo completamente só porque não penso que sou capaz de ter certeza sobre alguma coisa.
No outro caso, perda de tempo. Mas não completa. O nariz continua sendo o mais bonito que já beijei.
E, quanto à minha estrelinha, sim. Mas os papeis inverteram consideravelmente. Adquiri as rédeas da situação com mais firmeza – e escrevi claramente firmeza, e não frieza. Um tiquinho por causa do orgulho adquirido em batalha, e outro tiquinho graças ao “domínio” da mente. Foi, é meu amor. Sempre será. Até termos aprendido o suficiente para, talvez, irmos embora separados. Perante a isso, não nutro medo. Tampouco ódio. Nutro gratidão – pelo amor, pela felicidade e principalmente pelo aprendizado. A propósito, ele fez. E ficou belo.

Um bocado. Saudável. Pele. Ele cresceu, e pretendo mudar de leve muito em breve. Ainda não. Não, mas quase-quase-quase (de qualquer forma, não é mais uma prioridade). Sim. Sim. Não, e nem pretendo.

Ainda não. Ênfase no ainda. Os planos sobre isso têm parecido mais reais, apesar de todas as reviravoltas. Não me deixa triste, pois não é prioridade. Gosto e admiro muito ambas, mas tenho migrado para novos ritmos – até samba.
Obviamente continuo – se parasse de escrever, como respiraria? –, mas ainda não. Ainda. Dei os primeiros passos sobre isso há alguns dias.

Um bocado sem sentido, principalmente no quesito mercado. Mas, como citei, não me importa mais um terço do que importou – encontrei meu lugar, e é deveras confortável. Um pouquinho das coisas, e sim, me deixou feliz.

Não continuo, mas tudo bem. São ciclos. Antigas pessoas se vão e novas surgem.
Não sei responder sobre paixão. Se é sobre haver alguém novo, houve. Que de quebra apresentou soluções que antes pareciam distantes demais sobre o que pode ser o “amor” – me apresentou um pedacinho de mundo sem ter nenhuma consciência do que fazia; me segurou no colo; cantou pós punk; me apelidou de raposa; mostrou o alinhamento de vênus e júpiter debaixo duma árvore. Passarinho voa, e eu também. Bem tranquilinhos, bem amadinhos, e bem satisfeitos. Simples. Assim: “até a próooxima”, rindo.

Levando em conta a urgência das perguntas feitas por você do passado, sim. Mente sempre gira, mas creio que esteja girando menos. Os momentos de tranquilidade e calmaria foram maiores, mais longos e profundos. Você conheceu budismo... e meditação.

O que me aflige agora... Nada em especial. Talvez algumas questões não postas em palavras, não postas para fora. Um pouquinho de medo de pensamentos críticos sem sentido nem embasamento.
O que me deixa triste... Neste exato momento, nada.
O que me deixa feliz... Quase tudo. Observar minha própria mutação. O tom do céu às seis e vinte da manhã.

Mudaram. Mudaram muito. Mudaram drasticamente. Talvez mais do que no passado, mas, é claro, tudo em seu tempo. Que sirva de lição: o seu medo saltou da escuridão e te encarou por meses a fio. Nada foi mais pesado do que seus ombros puderam suportar. Às vezes a mente tenta tanto ir à frente, brincar de descobrir o que será, que não lembra do fato de que quase nunca, quase jamais, temos propriedade suficiente para decidir o que nos fará melhor.

Amanhece agora. Muitos pássaros cantando. Vento gelado e céu lilás com pontinhos cor de rosa, como fica depois de muita chuva. O meu favorito.

(Ah, e felizmente, ninguém morreu!)