E Foi Por Isso Que Fugi...
Queria ser corajosa o suficiente para dizer a ele. Acho
que a palavra dita torna-se infinitamente mais dura e real do que a palavra
escrita. Mas de todos os medos, e todas as dores, essa tem se tornado a mais
densa e escura.
As ultimas semanas dão-se por ápices de alegria e
mergulhos de tristeza, e eu não sei se há mais espaço na minha mente para tanto
amor, dor, saudades e momentos entrelaçados como num novelo de lã que só
cresce, e nunca para de fazê-lo. A dor emocional chegou a um extremo tão grande
que passou a ser física. Pela milésima vez no ano.
1º: Eu sabia exatamente o que estava sentindo. Sabia que
havia sentimento de volta. A velha história de dar um pouco, pegar um pouco;
2º: “Adeus” pela centésima vez;
3º: A saudade perfurante de todos os momentos vividos e
não vividos. O sentimento recíproco que me mantinha sã;
4º: “Olá”, e a magia retorna (não sei, porém, se ela já
era tão obscura quanto me parece agora... pareceu-me real, puro, mas não posso
ignorar o fato de que você também me parecia ambas as coisas quando surgiu);
5º: Dúvida. Meus olhos de repente de abriram para o mundo
em volta. As pessoas em volta. E uma delas em especial. Medo de magoá-lo ou
arrepender-me de uma atitude precipitada, porém;
6º: Olhos fechados novamente. O sentimento de indiferença
deu espaço a um profundo “não deveria ter feito isso comigo mesma” que
apoderou-se de mim de uma maneira tão horrível que ainda predomina. Mas as
coisas já estavam estranhas, e não havia nada, nada que pudesse ser feito.
É engraçado e tosco observar que eu pude sentir tanto em
tão poucos dias, e como o que pensei que fosse tão grande veio a tornar-se
menor do que um grão de areia perdido entre milhões de outros em uma semana.
Sempre pensei que tínhamos nosso próprio tempo – e que ele corria mais rápido
do que o relógio ou calendário comum conseguiam acompanhar –, mas a destruição
de todo esse sentimento ainda me surpreende.
Foi rápido e extremamente patético. Algo no olhar do
garoto que nos observava me amedrontou. Agora, depois da avassaladora
descoberta (que não foi exatamente uma descoberta, dado que eu já sabia do que
poderia estar acontecendo) entendo exatamente o que aqueles olhos gostariam de
ter me dito. E eles eram a pena mais pura. A vontade de contar, de me fazer
enxergar e o pedido de desculpas por não fazer nada disso. Nunca achei que
amaria alguém que (praticamente) desconheço tão forte. Mas o amo por aquele
aviso silencioso.
Aquilo perambulou por minha mente toda a noite. Não fazia
ideia do motivo que poderia ter desencadeado tamanha tristeza, decepção e raiva
tão rapidamente.
Descobri algo que não deveria ter descoberto. Minha mente
e alma se dividem sobre sentir-me feliz pelos dois, ou triste por mim mesma. Se
eu não o fizer, quem mais fará?
Parte de mim tenta convencer-me de que pessoas são
pessoas, e pessoas se apaixonam por pessoas, mesmo quando também estamos nesta
equação. Outra parte, porém, quer te mandar ao mais fundo buraco do inferno por
ter criado uma situação como uma gaiola, da qual eu não poderia fugir, mesmo se
quisesse.
Não te dói fazer com que eu me sinta amada enquanto seus
sentimentos flutuam por outra pessoa? Falar comigo como se tudo estivesse bem
enquanto há alguém te esperando do outro lado? Adotar-me como segunda opção
enquanto todo o seu coração já estava tomado por um sorriso que eu desconhecia?
Porque me dói. E não existe segunda opção para me abraçar
e trocar sorrisos enquanto sinto essa metamorfose de conformismo e ódio
fulminantes.
Agora tenho a absoluta certeza de que você não deveria
ter voltado. E eu não deveria tê-lo aceitado de volta, tampouco. Não o culpo pela
paixão, mas o culpo, sim, pela omissão de informação. Por não ter-me contado.
Por sentir-se confortável nos braços alheios enquanto me jogava na chuva. E
sorrir por outra pessoa antes de dormir e depois de acordar, enquanto eu
acreditava nas palavras vazias que foram atiradas como moedas a um mendigo.
E depois, há todo aquele discurso no qual tu acreditas,
sobre a maldade e individualidade que cerca os seres humanos por puro instinto,
que provou-se real. Não porque você ama outro alguém. Mas por ser tão cruel ao
ponto de fechar os olhos e acobertar-se de covardia ao não me contar tal coisa.
Quando falava do ser humano, olhava-se no espelho.
A criatura da qual tinhas medo, era a que se escondia no
seu próprio interior.
Agora que a vejo tenho medo dela, também. E foi por isso que fugi.