domingo, 22 de junho de 2014

Tempos Difíceis Para Os Sonhadores

Resenha + Devaneios: O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet

"Minha querida Amélie, você não tem ossos de vidro! Pode suportar os baques da vida. Se deixar passar esta chance, com o tempo seu coração se tornará tão seco e quebradiço quanto meu esqueleto. Então vá em frente, pelo amor de Deus!"

Minha paixão pelo cinema Francês começa bem aqui. Você, por algum acaso, já notou como produções cinematográficas com roteiros bem pensados podem te fazer mudar de ideia? E será, então, que mudamos realmente de ideia ou só despertamos um sentimento que se mantinha (muito bem) escondido em nossos corações?

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain narra com uma delicadeza maravilhosa a história da jovem parisiense Amélie, que certo dia encontra uma pequena caixa escondida em seu banheiro. Ao abrir o pequeno achado, depara-se com o que foi o possível tesouro da criança que morou ali há pelo menos 40 anos, e decide encontrá-la. Estrategicamente devolve o antigo pertence a seu verdadeiro dono, que chora de emoção. Ali, quase que de uma hora para outra, Amélie passa a ver as pessoas de uma forma totalmente diferente, e passa a ajudá-las com pequenos - porém significativos - gestos. A moça sente falta, entretanto, de alguém que cuide de seu próprio coração.

Aviso não-muito-importante: Não sei se estou sendo justa ao escrever esta resenha, dado que a minha própria visão sobre pessoas tem mudado consideravelmente ao longo dos últimos meses... Aviso, então, que qualquer pensamento profundo, avoado ou insignificante NÃO é mera coincidência. Desde já, perdão por isso. xD

Acredito que todas as pessoas do mundo já passaram por uma situação parecida com esta. Se você não passou, eu sinceramente espero que passe logo!, mas é algo como pensar em algo insistentemente e receber uma prova concreta de que aquilo é real. A prova concreta pode vir de várias formas: através de uma canção, um livro, uma citação ou, neste caso um filme.
Acontece que sempre tive pensamentos um tanto semelhantes com relação às pessoas, mas ultimamente recebi diversas evidências que bateram direto no meu nariz e provaram que tudo aquilo poderia ser real. Estava sendo difícil admitir que meu sub-consciente sempre esteve certo, principalmente depois de algumas situações que envolvem relacionamentos de amor vs. ódio. Minha primeira prova concreta surgiu numa noite fria em que minha risada saía alta demais: ela tinha olhos brilhantes e usava uma blusa listrada. Minha prova me abraçou pela primeira vez, e foi aí que comecei a devanear incansavelmente sobre como TODOS deveriam ser conhecidos unicamente. E sobre paixões que vem e vão, e momentos que ficam na memória e nos fazem sentir saudades.
Apaixonei-me por pelo menos quatro pessoas diferentes depois que tentei seguir com isso, e cá estou eu dizendo-lhes que essa está sendo uma das experiências mais fantásticas pelas quais já passei durante toda a minha curta história de vida.

Como relacionar o parágrafo acima com o que estou tentando repassar-lhes sobre o filme, então...?
A coisa que mais gostei sobre Amélie é que o diretor teve o cuidado de tratar cada personagem como um ser único. Um bom exemplo disso é a narração sobre as coisas que cada um gosta, e também das que não gosta. Isso é uma ótima metáfora sobre: Trate as pessoas como seres únicos, também! Todos merecem atenção especial, e tem coisas para serem amadas sobre (cheguei à conclusão de que, às vezes, a coisa que nos faz amá-los é justamente o fato de serem tão detestáveis).
E a outra coisa que mais gostei é uma lição mais valiosa que diamantes: Nossos ossos "não são de vidro". Os altos e baixos da vida (mesmo que a segunda opção pareça aparecer com mais frequência por um determinado tempo - que por sua vez pode ser longo) servem como uma montanha russa de emoções que nos impedem de nos tornarmos pedras. A emoção de estar apaixonado por determinado período vale todas (e eu disse todas) as lágrimas derramadas pelo mesmo motivo. E isso acontecerá tantas vezes de maneiras diferentes que se torna inútil tentar controlar qualquer sentimento proveniente.
Nunca será igual, e é por isso que todo o término dói como se fosse o primeiro, e todas as vezes em que nos apaixonamos parece A Vez. Mas se lhes serve de consolo, lá fora há um universo gigantesco, repleto de criaturas fascinantes e diversas a seu próprio modo, para explorar.

Permita-se procurar. Deixar-se machucar. Chorar. Se apaixonar. Há um novo horizonte para todos que ousam seguir em frente...

PS: A trilha sonora do filme me faz imaginar pequenas vilas francesas repletas de pessoinhas baixas e interessantes. Passei mais tempo do que deveria observando o céu repleto de estrelas ouvindo-a na universidade.